Os CARTAZES DE PROTESTO surgem para fazer provocação ao apagamento da memória da Bahia. Os cartazes julhienses são de FOLIA, mas esses são de LUTA(o): Sua Marca Aqui (2022) e Aluga-se Memória (2023).
Peço que visualizem esse cenário, uma praça na Bahia, com um monumento a data mais importante da Bahia, e nesse local, durante vários verões/natais se QUALQUER pessoa fizesse uma selfie na Praça Dois de Julho em frente ao Monumento Dois de Julho não encontraria no seu registro nenhum Caboclo, nenhuma Paraguassu ou qualquer outro herói do 2 de Julho representado no parque escultórico de 25 metros de altura, pois eles estavam colonizados, escondidos, subjugados debaixo de uma árvore de natal, de neve e do "Santa Claus" de plástico. Fiz uma apuração dessa situação de damnatio memoriae para fundamentar o gráfico abaixo que ilustra a linha do tempo do apagamento do Dois de Julho na Praça Dois de Julho.
SUA MARCA AQUI (2022) apresenta o Caboclo como um empreendimento comercial disponivel para merchan, traz a figura do indígena coberto por marcas que remetem ao capitalismo comunicacional, a enxurada de marcas e persoangens de ficção que obliteram a percepção da cultura e dos personagens reais e locais.
Foi colada no Campo Grande, ao redor da Praça Dois de Julho para fazer uma crítica artística ao abuso do poder municipal, que não sofre reprimendas de parte alguma, como por exemplo o IPAC e IPHAN, que poderiam questionar, nas instâncias corretas, quais as contrapartidas do encobrimento de um legado cultural por um tema comercial.
São Cartazes de denúncia: expondo o uso mercadológico de um lugar de memória de Salvador, da Bahia, pela própria prefeitura, em afronta ao patrimônio histórico e cultural, onde o IPAC-BA e IPHAN se isentam de suas atribuições de salvaguardar.
Qual o limite para a privatização de espaços públicos e apagamento de memórias sociais?
Nosso objetivo é que o Natal, mesmo sendo o mercadológico e não o religioso, possa ser celebrado/ comercializado na Bahia, CONTUDO, sem ofender a memória da própria Bahia.
ALUGA-SE MEMÓRIA traz uma provocação a construção da memória, como algo que pode ser realmente comercializado. A arte traz uma série de palavras alternativas para avaliar essa relação, como: "Vende-se Cultura", "Deprecia-se História", ou "Insulta-se Passado". Vários desdobramentos do que ocorre ao se permitir que um "local de memória" seja rifado.
Agravando o episódio natalino, o apagamento mais terrível da memória do 2 de Julho ocorreu no equipamento arquitetônico mais improvável, o Aeroporto Internacional 2 de Julho (1955-1998). Essa estrutura fica longe dos locais de memória envolvidos no processo de independência, não trazia painéis, nem esculturas do tema. Contudo, seu significado simbólico era estupendo, o portal que ligava a Bahia ao mundo.
Essa arte é simples, um adesivo simulando bilhete de embarque se camufla no saguão, nas malas, junto a sinalização, ou misturado aos papéis do chão e faz uma provação ao uso político da memória mais importante de uma nação.