Na construção da marca Ianda, tivemos a chance de acompanhar o surgimento do negócio. Trata-se de uma marca para camisetas artesanais, com foco na cultura africana, havia um nome provisório, cuja sonoridade ainda não estava tão alinhado às experimentações dos produtos: uma assemblage elegante incorporando tecidos em cor sólida, grafismos com tecidos estampados africanos autênticos e impressão de formas sólidas em serigrafia. Entendemos que grande parte de sua conceituação estava definida no estilo das coleções de camisetas prontas, sua moda, sua visão. A cliente também apurou a segmentação do público que já aderia a suas criações, mulheres entre 17 e 45 anos, que buscavam identificação e pertencimento.
Ao nos inteiramos da demanda, aumentamos o escopo do projeto para incluir o NAMING, a contratante nos deu o tempo e condições para realizarmos uma pesquisa mais completa. A partir do mapa mental elaborado por nós e avalizado pela cliente, tínhamos um mapa para nos ajudar a filtrar possíveis nomes. Concebemos listas de palavras que tivessem mais conexão com a ideia que se formava da empresa. Priorizamos possíveis nomes com poucas sílabas e boa sonoridade. Depois filtramos nomes e associações de nomes que estavam disponíveis para registro de marca, de site e para uso em redes sociais. Após uma análise dos pontos positivos e negativos das opções mais interessantes foi eleito o nome Ianda.
O nome escolhido, já indicava um caminho para a construção visual da marca. Partimos para a etapa visual, construindo uma matriz com diversos elementos gráficos que poderiam criar relações positivas com o nome e valores da marca. Coletamos silhuetas, texturas, símbolos, tipografias e outras formas, que filtramos para construir quadros morfológicos relacionados as palavras-chefe que surgiram na etapa conceitual: África (natureza, cultura), Sereia (feminino, místico), Elegância (estilo chic). A partir desses painéis, escolhemos as opções de cores, tipografia e a configuração do símbolo da marca, num progresso orgânico do que ia sendo construído de modo coletivo, com a participação da cliente.
As formas elementares da sereia foram desenhadas através da simplificação geométrica, de onde podemos relacionar tanto com padronagens africanas usadas nas peças da marca como ao trabalho com corte e colagem usados para compor as mesmas peças da marca. Com um traço orgânico, trazendo espontaneidade, o desenho do símbolo reforça o jeito manual da produção das peças da marca. A tipografia romana do letreiro, com seu traço fino e serifas bem marcadas adicionou elegância ao conceito da marca.
Paleta e tipografia
Versões e aplicações
No contexto do design, marca é a síntese da identidade visual de uma empresa, pode ser apenas um letreiro, ou uma combinação de letreiro e grafismo. Contudo, um projeto de marca deve prever a marca e seu contexto de aplicação, compondo a referida identidade da marca, que se extende para elementos de apoio, como cores, formas, texturas, tipografias, mascotes, slogans, estilo fotográfico, entre outros.
Consideramos a criação de marca como um trabalho colaborativo, onde a inclusão do proponente e de um grupo de teste (observadores neutros, que ajudam a qualificar os resultados visuais) nos processos é fundamental para o melhor resultado. O designer atua como mediador (1) dos saberes do empreendedor, que melhor entende seu produto/serviço e o espírito da empresa, (2) dos usuários finais, os clientes, que têm perfis distintos do empresário e demais pessoas envolvidas na operação do negócio, e (3) de seu próprio saber referente as questões técnicas da representação do produto/serviço como uma símbolo, para que as opções que surjam no percurso criativo sejam capazes de corroborar as expectativas da instituição, resultando numa marca que cause a melhor recepção possível no público alvo.
Vale a pena ressaltar nosso método de trabalho permite um percurso seguro da demanda inicial ao resultado final. Nosso processo se desdobra a partir de etapas de diálogos mais abrangentes, o briefing, para uma compreensão ampla do contexto do produto/serviço, do mercado, da praça, do público. É uma etapa inicial para criação de um universo de possibilidades criativas, delimitando o que cabe ser proposto para o cliente, cuja expectativa será por algo que funcione dentro desse recorte, o que não estiver conversado nesse momento não existirá nas etapas seguintes, sendo importante conferir com as partes envolvidas se nenhuma informação crucial não foi deixada de lado*. Esse panorama verbal e descritivo, sendo demasiado amplo, passa a ser apurado em mapas conceituais, formado por palavras-chave, emoções, ideias e categorias, em apontamentos curtos e pragmáticos, que vão estreitando as possibilidades, na busca por representações mais distintivas possíveis para o projeto. Do verbo a imagem, as etapas seguintes passam a traduzir as informações conceituais em informações visuais, quais cores (e combinações de cores) são mais adequadas aos sentimentos que a marca deve expressar, quais tipografias (e combinações de tipografias) serão mais adequadas ao estilo da instituição, quais formas (ritmos, movimento, escalas) sintetizam o âmago da marca? Criamos grupos variados de cores, tipografias e formas, que são validados a partir das etapas anteriores, juntamente com o cliente, que percebe a lógica na construção da identidade visual, a coesão da forma que se revela de modo orgânico ao percurso que foi dialogado, desse modo a imagem que surge é totalmente coerente com as expectativas criadas.